26 abril 2010

Dia Mundial da PI 2010 - Rui Silva (TSF - Made in Portugal)



Rui Silva, 37 anos, é jornalista da TSF desde 2000. É coordenador do programa Made In Portugal, dedicado à divulgação da actividade empresarial de sucesso em Portugal.



"destaco uma vontade constante de fazer diferente e um encarar das dificuldades como oportunidade de crescimento destas organizações"


PITI - A inovação, com as novas tecnologias, trouxe uma sociedade da informação e do conhecimento, como já é vulgar ouvirmos. De que forma esta inovação nos traz também, ou não, uma “sociedade verdadeiramente global”? Sente que actualmente, no contexto da inovação em Portugal, podemos afirmar que os produtos e serviços que hoje criamos são, de facto, globais?


Rui Silva - No último ano e meio tive o privilégio de contactar directamente com cerca de 200 empresas de variadíssimos sectores de actividade que vêem na inovação uma forma de se diferenciarem no mercado - a única forma, sublinham muitos empresários que entrevistei para o programa Made In Portugal, da TSF. De todas estas empresas, sobretudo PME's, destaco uma vontade constante de fazer diferente e um encarar das dificuldades como oportunidade de crescimento destas organizações. Perdi a conta ao número de vezes em que os gestores dessas empresas me disseram: «este é um produto para o Mundo», «Portugal é um país pequeno e só podemos crescer lá fora», «o nosso objectivo é actuar no mercado global». Sinto, por isso, que vontade não falta. Se as estratégias utilizadas são as melhores, isso é outra questão! A propósito: um empresário, responsável por uma associação industrial contou-me que um dia recebeu um gestor que lhe disse: «Já percebi que a inovação está na moda. Arranje-me aí qualquer coisa para eu inovar lá na minha empresa!»




PITI - Qual é a importância da Propriedade Intelectual para tal situação? Entende, e desde quando, que a Propriedade Intelectual é relevante para a “globalização” dos serviços e produtos nacionais?


Rui Silva - O medo de muitos empresários, sobretudo do sector industrial, são os produtos chineses e a conotação negativa que eles assumem quando vistos como concorrência considerada «desleal» por alguns. As patentes (nacionais, europeias ou internacionais) são, assim, encaradas como uma defesa a essa «ameaça». Ter um produto patenteado é assumido como algo de positivo, que traz valor à empresa e que possibilita uma certa sensação de alívio. Apenas encontrei um empresário que me disse: «é bom termos o produto patenteado, mas isso não significa nada porque amanhã alguém o vai copiar, quer queiramos quer não. Por isso, a única solução é continuarmos a inovar para estarmos sempre à frente».


"«Arranje-me aí qualquer coisa para eu inovar lá na minha empresa»"


PITI - Na prática e na sua experiência profissional, quais são as grandes virtudes e limitações do sistema de Propriedade Intelectual nacional / comunitário / internacional? Considera que Propriedade Intelectual oferece uma “estrutura para a troca e disseminação de tecnologia” e um “incentivo para a inovação e competição?

Rui Silva - Não conheço a fundo o sistema e os seus mecanismos. Nos contactos que mantive, alguns empresários destacaram a «impossibilidade» de os seus produtos/serviços/métodos, apesar de inovadores, serem patenteados ou terem algum tipo de defesa legal. Mas não senti esses gestores especialmente incomodados com esse facto.


"Ter um produto patenteado é assumido como algo de positivo, que traz valor à empresa e que possibilita uma certa sensação de alívio"


PITI - Acredita que a Propriedade Intelectual poderá, realmente, constituir-se como um pilar de colaboração global no combate aos desafios que se impõe ao ser humano?


Rui Silva - Sinto que a Propriedade Intelectual é algo que está distante do cidadão comum. Talvez fosse importante uma maior aproximação e explicação pública sobre o que é a Propriedade Intelectual e o que ela representa. Neste mundo globalizado e de constante oferta, a sociedade está a perder o respeito pelo trabalho dos outros. Talvez quando o consumidor souber melhor o esforço, o investimento e o estudo que está por detrás da criação de um produto inovador, pense melhor e decida comprar o verdadeiro em vez da cópia. É uma questão de preço, claro... mas na minha opinião, também de cidadania!


"importante uma maior aproximação e explicação pública sobre o que é a Propriedade Intelectual e o que ela representa"

Sem comentários: